Próximo aos 90 dias de ocupação
do Restaurante Universitário da UEFS, e sem saber como resolver a situação, que
para o reitor foi como uma pedra no sapato, a Administração Central revela
escancaradamente sua postura autocrática de gerir. Mesmo após a retirada das
barreiras paramilitares de proteção e dos mais de cinquenta seguranças
contratados – obra da deliberação estudantil conquistada em AGE –, o Coletivo
Rapinagem e o contingente estudantil que o apóia permaneceram por todos esses
últimos dias sem o devido abastecimento de água e luz do prédio, numa talvez
não tão clara, mas não menos repulsiva, mostra de autoritarismo.
Vale lembrar que essa Ocupação é
consequência direta de um não-diálogo
de cinco anos, o que temos como comprovar. Sempre por detrás de um discurso
altamente democrático, Zé Carlos se propôs, num ato de desespero, ao ridículo
de tomar iniciativas completamente destoantes de todo seu suposto aparato
ideológico de gestão sustentado até agora.
A vantagem desses últimos acontecimentos foi que, diante de todo o circo de
terror, agregamos diversos estudantes, e dos mais variados, que ficaram
horrorizados durante toda a tentativa de desocupação forçada. A comunidade estudantil foi ao local
certamente para ver o posicionamento do Rapinagem submetido àquela situação e,
aparentemente, não só se comoveram como também entenderam finalmente a nossa
luta – para os que estavam em cima do muro, sem uma opinião formada, estes dias
foram fundamentais para que compreendessem a real conjuntura política desta universidade.
Ainda no primeiro dia de
tentativa frustrada de retirada dos ocupantes do restaurante Burguesão, quando
as ordens dadas pela reitoria chegaram ao cúmulo de mandar sitiar todos lá
dentro com placas de maderite, pessoas do lado de fora se juntaram numa espécie
de contra-movimento. Os estudantes
resistiram juntamente com o Coletivo e foram, sem sombra de dúvidas, essenciais
para a manutenção da luta – devemos inclusive nossos muitos obrigados à
colaboração de todos.
No segundo dia, a aglomeração de
pessoas se deu no intuito de que ocorresse uma Assembleia Geral dos Estudantes
(AGE). Aconteceu a AGE, mas muito diferente do que seria o pior a esperar – a
deliberação para um ato de desocupação, por exemplo – foram tiradas dela: uma
moção em repúdio aos atos repressivos da reitoria; apoio ao Coletivo,
principalmente no que concerne ao seu principal ponto de pauta: fim do
Burguesão imediato; exigência do fim do cerco e dos seguranças para que
houvesse, de fato, negociação; e um ato para reunião na reitoria para, enfim,
pressioná-la a uma resolução.
Após longa demora, o reitor
apareceu, a reunião ocorreu, mas nada se resolveu. Em nota publicada, a
reitoria se pronuncia da seguinte forma: “a
decisão da assembleia estudantil dificulta o processo de restauração da
normalidade no serviço de alimentação no Restaurante Universitário”, o que
sinceramente não entendemos. Como foi dito pelo próprio vice-reitor Genival
Corrêa de Souza, na mesa de negociação ocorrida na última sexta-feira (06/07),
o que impossibilitaria a aceitação do fim imediato do Burguesão era o fato
desta não ser uma pauta dos estudantes, e sim de um grupo minoritário. Mas
mesmo após esta ter sido ampliada como pauta da categoria estudantil que, vale
salientar, já havia sido conquistada em AGE ocorrida na terça-feira 24 de abril
de 2012, a
Administração Central da Uefs ainda arranjou novas formas de postergar a
resolução da questão.
Em suma, a reitoria pede que os
sindicatos dos técnicos administrativos e dos docentes (Sintest e Adufs,
respectivamente) se reúnam novamente até a próxima quarta (11/07), dia em que
ocorrerá uma reunião entre as categorias e a administração, onde aquelas
deverão dar seu parecer acerca da questão Burguesão – o que não era de forma
alguma necessário, afinal, várias assembleias já foram realizadas há algum
tempo e o posicionamento dessas instâncias já é conhecido.
O que pretende então o nosso
magnífico reitor? Qual a próxima armação que devemos esperar? Sim, não é de se
duvidar uma nova trama, ainda mais para quem passou pelos últimos
acontecimentos. Mas muito além disso, alguns detalhes parecem não se encaixar,
deixando um ar de suspeita e levantando questionamentos, por exemplo: por que a reitoria que tanto queria concluir
a questão da Ocupação resolve esperar até quarta ainda, sendo que já tem todos
os recursos para tal fim em mãos? Por que decidem esperar mais?
Nos parece estranho, após cinco
anos de discussões burocráticas, três meses e nada de negociação, após as
medidas desesperadas e injustificáveis de desocupar à força, após nossa vitória
em resistir à opressão e em conquistar novos adeptos à pauta e após o apoio da
categoria estudantil, que a reitoria ainda queira esperar. O que será que eles planejam? Não excluímos a possibilidade de um
novo golpe.
Certo é que a próxima quarta será
o “Dia D” da UEFS, o dia para reafirmarmos nossa pauta, nossa luta e nossa
conquista. Na última AGE, o DCE perdeu em sua defesa de realocação do Burguesão
para depois, porém são eles que representam a categoria estudantil legalmente,
e mesmo contra esta pauta, o DCE estará na mesa de negociações. Acreditamos que
esta é a hora de TODA a comunidade de estudantes fazer um DIA GERAL DE LUTA E
MOBILIZAÇÃO PELO BANDEJÃO, PRESSIONANDO AS INSTÂNCIAS QUE
ESTARÃO NA MESA COM O REITOR PARA QUE HAJA O ATENDIMENTO DA PAUTA JÁ
DELIBERADA.
Não se trata de concordar ou não
com o Rapinagem, nem de achar certo ou não a Ocupação, mas de GERAR O MÁXIMO DE
PRESSÃO ESTUDANTIL POSSÍVEL, para que nesta quarta possamos findar o dia com a
certeza de que o nosso Bandejão voltará a funcionar e que esse self-service será retirado de seu atual
espaço para ampliar o nosso, como referendado pela AGE, que também conseguiu:
cotas aumentadas em todos os turnos e
funcionamento fiscalizado e estendido aos finais de semana garantidos,
além da pauta Gestão Pública bastante avançada. Com essa conquista poderemos
finalizar esta Ocupação e superar este quadro difícil que a todos afeta de
diferentes maneiras. Convocamos, pois, os e as estudantes, em geral, para uma
ampla mobilização em todo o dia de quarta-feira, o Dia D da UEFS.
Coletivo
Rapinagem, 09 de julho de 2012.