“O DCE teoriza movimento estudantil, fala em popularização da
Universidade, mas em um momento de fervor, quando um coletivo luta por uma
causa, ele propõe uma desocupação.”
Temos desde o
dia 12 de abril um grupo de pessoas em ato de ocupação por pauta referente ao
Restaurante Universitário. Por uma universidade realmente popular, temos dentre
os diversos pontos:
a)
Aumento de cotas e bolsas alimentação, representando o
subsídio parcial e total, respectivamente, das refeições;
b)
Funcionamento aos finais de semana, atendendo não só
residentes, mas estudantes que moram no Feira VI, por exemplo;
c)
Passagem a uma Gestão Pública, sendo desde os
funcionários ao próprio abastecimento do restaurante responsabilidade da
Universidade; e
d)
Fim imediato do self-service
(Burguesão), o maior símbolo de como foi falho o projeto para um RU de
qualidade.
Ao que
parece, se ainda não houve consenso acerca da importância de se acabar já com o
espaço Burguesão, entre toda a comunidade acadêmica, é porque a questão está
sendo analisada por reflexões rasas. Por exemplo, não desconsideramos, em
momento algum, o fato de haver o direito das pessoas escolherem onde irão
almoçar. Também não pretendemos restringir, ou mesmo obrigar, que almocem todos
em um local específico. A questão Fim do
Burguesão envolve uma lógica mais eficaz que o estereotipado grupo de
estudantes lutando pela não divisão de classes.
O fato de uma
empresa (Sabor & Arte) ser atualmente a responsável pelos espaços do
Bandejão e do Self-service simultaneamente,
existindo ambos em mesmo prédio e dividindo a mesma cozinha, traz consigo a
seguinte regra: a manutenção do Burguesão e a qualidade da comida servida no
Bandejão são grandezas inversamente proporcionais, ou seja, para que haja
sentido a existência do Burguesão é imprescindível a precarização do Bandejão.
E, afinal, era o que vinha acontecendo: não havia comparação entre a comida
servida em um e em outro – a comida do Burguesão sempre melhor, claro, para que
quem tivesse dinheiro para pagar por ela tivesse acesso. Além disso: a) as
filas gigantescas, em pleno horário de meio-dia, que os estudantes encaravam,
chegando a passar, normalmente, mais de uma hora nelas, somente para que
pudessem entrar no espaço Bandejão; b) as não raras vezes, por exemplo, em que
havia apenas um funcionário responsável por registrar a entrada dos estudantes no
RU para o almoço, o que estava longe de suprir minimamente a demanda; e c) a longa
demora para completar o abastecimento da comida no local devido a ser servida
aos alunos, outra ineficiência para a demanda. Estes são, talvez, os exemplos
mais marcantes da situação insustentável de funcionamento por que passava o RU
antes da paralização.
Agora,
mudando um pouco a perspectiva, o que mais nos intriga é o fato da comunidade
acadêmica, em geral, ter se chocado mais com o movimento de ocupar o
restaurante que com as várias denúncias apresentadas sobre todas as
irregularidades de funcionamento, armazenamento impróprio de alimentos e falta
de higiene do local; que com as variadas quebras de contrato apresentadas por parte
da empresa Sabor & Arte; que com o trabalho falho, e explicitado, do Conselho
Gestor em fiscalizar e administrar o funcionamento apropriado do restaurante;
que com o fato de um grupo de estudantes há cinco anos lutar por meio de todas
as vias institucionais pelo melhoramento do Bandejão e, só agora, após ter
conseguido nada, partir para uma ação que foge aos trâmites legais. Não parece
haver uma inversão de lógica? Conseguimos parar a Universidade por três dias,
mas as pessoas foram incapazes de parar pra pensar nos motivos que nos levaram
a isto por um dia que seja. Por isso, ao vermos a Reitoria pedir “que os estudantes possam compreender a
necessidade do retorno imediato das atividades do Restaurante Universitário”,
nos perguntamos: “retornar daquele jeito?!”.
No mínimo, isso é um absurdo!
Temos o outro
lado da história, onde parece ser mais sensato o apoio da comunidade,
principalmente estudantil, à nossa causa. Onde parece mais justa a união da
categoria estudantil em torno de seus próprios interesses e em torno de
interesses coletivos – a questão Bandejão deve ser entendida assim. Sem essa de
“caprichos pessoais”, pois Fim do
Burguesão para que verdadeiramente se produza um Bandejão de Qualidade é demanda
universitária, tanto para um projeto de universidade popular quanto, sobretudo,
para validar aquela que seria “uma das
mais efetivas políticas de permanência dentre as universidades públicas
brasileiras”, e não puro interesse de “um
restrito grupo de estudantes”.
Na atual
conjuntura, podemos até falar de como se torna desnecessário a existência de um
DCE em nossa universidade. Os estudantes, de modo geral, deveriam se unir assim
que necessitassem concatenar forças, e, quando um movimento social surgisse,
estes deveriam o apoiar – e não ser como vemos hoje em dia, quando o grupo
virtualmente representativo do segmento estudantil visivelmente esbarra num
processo de luta, com que intenção outra senão de uma politicagem mesquinha. Não
os permitiremos conquistar essa pauta, pois nós é que devemos mostrar este serviço
– este parece ter sido o pensamento de quem faz parte do DCE durante todo esse
tempo.
Já tivemos
sim, nesse processo, nossa pauta distorcida por interesses políticos do DCE;
projeções de negociações e de conquistas foram atrasadas, não uma vez, por
articulações às escondidas entre o DCE e a gestão Mais Uefs – como ocorrido
recentemente; e tivemos toda a sorte de prejuízos imaginada que poderia ter sido
acarretada ao comprarmos essa briga em nome de nossos objetivos por melhorias.
Sabemos,
Reitoria, o quanto somos impertinentes ao desestabilizar a consensual praxis da gestão Zé Carlos. Sabemos,
DCE, como somos inconvenientes demonstrando sua incapacitada representação
estudantil. Sabemos, Reitor, o quanto não somos “violentos e unilaterais” e o quanto é falseada sua disposição e
crença no diálogo. Sabemos, DCE, que uma universidade não se constrói de
palavras vagas e apitos, mas sim de luta e movimento. Sabemos, Zé Carlos, quão
distorcida foi sua, auto-promovida, “busca
de canais de diálogo e de negociação” com o Coletivo. Também sabemos, DCE,
que uma instância que mal se representa não tem condições de representar estudante
algum. Não ajuda, também não atrapalha!
“É chegada a hora de pensar não em desocupar,
mas em pressionar a Reitoria para que a pauta seja conquistada.”
Feira de Santana, 4 de julho de 2012
COLETIVO RAPINAGEM
Um comentário:
Desde meados de abril acompanho, de longe, o movimento de vocês. Sondando aqui e ali para ver a razão e as razões das faces envolvidas. Os textos de vcs são claros quanto às reivindicações e histórico da causa, inclusive do nome do Grupo que até aqui era apresentado a mim com deboche, escárnio. Há uma boa razão para o nome. O texto de vcs não condiz com as reações verbais que me contam sobre o movimento. Dizem que vcs só sabem chingar, agredir verbalmente as pessoas (professores) que tentam se aproximar da ocupação ou falar com vcs. Ontem (5 de julho) vi aquela movimentação no R.U., funcionários da UEFS (terceirizados) fechando com madeiras janelas do prédio. Pensei em cárcere privado! Foi isso mesmo? Vcs não ponderaram em recuar, sair do bandejão para dali há um tempo curto ocupar a Reitoria? A luta de vcs é a mesma que travamos há décadas dentro das Instituições Públicas: gratuidade, melhores condições para a estrutura e infra, verba pública para a coisa pública. Presto o meu apoio às ideias de vcs e tento entender essa REAÇÃO de professores e diversos estudantes que ocorre aqui. Manoel Paiva, Biólogo, Estudante de Pós no RGV-UEFS, Funcionário na Universidade Estadual de Londrina, PR.
A LUTA É CONTÍNUA E CONTINUA, SOMOS POUCOS E TEIMOSOS.
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